terça-feira, 21 de agosto de 2012

Querer salvar a princessa é o suficiente!


Em geral, produtos orientais são vistos com olhos de apreensão e dúvida. Animes, por exemplo, são vítimas de preconceito. Quem nunca ouviu o velho papo de que ''Yu-Gi-Oh é um jogo do capeta''? Ou que ''Inuyasha é uma incentiva o satanismo''? Ou que Cavaleiros dos Zodíacos é uma apologia ao homossex...Ok, nesse caso é verdade. Se você for pego ouvindo alguma música oriental, uma hora ou outra vão te perguntar “Cara, tu curte isso mesmo não entendo nada do que estão falando?”, mas lógico que você só vai estar ouvindo porque tu é fã de auto-flagelamento.

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Mas existe uma mídia onde o oriente, principalmente o Japão, é muito bem reconhecido: os games. Inúmeros clássicos são de lá, de Mario e Zelda, à Final Fantasy e Kingdom Hearts, até onde eu quero chegar agora, Ico.

 

Ico é um jogo desenvolvido pela equipe “criativa” Team Ico, tendo como desenvolvedor chefe, Fumito Ueda. Lançado no final de 2001 na América e no Japão, no inicio de 2002 na Europa para o PS2, relançado em 2006 no Velho Mundo ainda no PS2 e relançado em HD junto com seu sucessor espiritual, Shadow of the Colossus, para o PS3 no ano de 2011. Essa é a versão da qual falarei aqui.

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Em Ico, você controla Ico  ~como eu disse, uma equipe criativa~, um menino que nasceu com chifres e por isso ia ser sacrificado. Na linguagem atual, você diz que ele sofria um ''bullying hardcore''. Ao sair da capsula onde ele foi preso em um castelo medonho, tem um sonho com uma pessoa presa em uma gaiola no alto de uma torre. Ao acordar, você e ele vão atrás dessa pessoa para resgata-la. Presa, você encontra Yorda e aí o jogo começa.

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A dinâmica do jogo está na relação entre o Ico e a Yorda. Como eles não falam a mesma língua, por isso as legendas das falas de Yorda são desenhos de coisas como aranhas ou insetos.  Você precisa guiar os dois pra fora desse castelo resolvendo puzzles, plataformas e enfrentando sombras chatas (pra caralho) que tentam sequestrar a Yorda.

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O jogo é basicamente isso: “Fuja do castelo com a princesa”. Eu sempre defendo que um jogo, um filme, uma série ou uma HQ precisa de uma boa historia e bons personagens e uma boa historia. Não precisa ser complexa e cheia de detalhes como um Metal Gear Solid. Salvar a menina funciona, das cantigas medievais até os dias de hoje. Mas o foco do jogo não é sua historia em si e a relação dos personagens.




Intimista é a palavra pra Ico. Quase não há diálogos, quase não há cenas de animação. A trilha sonora é bem lenta e reflexiva. Eu pessoalmente joguei o jogo com um enorme senso de urgência, afinal de contas, você está num castelo do mal sendo perseguido por sombras. Você precisa tirar essa menina do castelo. Em menos de 30min de jogatina e eu já estava me importando muito com aquela dupla de amigos. Eu precisava tirar a Yorda do castelo. Se você é fã da franquia The Legend of Zelda como eu, muito provavelmente você vai gostar desse jogo.

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Depois do lançamento de Shadow of the Colossus, começou pela internet uma enorme discussão sobre jogos serem arte. Eu acho Ico ''artístico'' em vários sentidos. Existe um momento em que você esta atravessando uma plataforma e a câmera “padrão” mostra uma panorâmica que te da a visão da plataforma, ao fundo água; depois da água existe terra com uma floresta e mais ao fundo o céu e o por do sol. Esse momento eu parei de correr e fiquei olhando, esqueci da porta que eu tinha que abrir pra Yorda, esqueci do senso de urgência e fiquei encarando aquela paisagem e pensando “Caralho, vei, isso em 2001 deve ter destruído cabeças.”. Além disso, o level design do castelo e das plataformas é simplesmente genial, envolvendo varias salas diferentes para abrir uma pequena porta.

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Ico é um sucesso de crítica, tendo 90 em 100 no Metacritic, e considerado um clássico da geração PS2. Foi uma influencia para Eiji Aonuma fazer The Legend of Zelda: Twilight Princess, para o mestre Hideo Kojima fazer Metal Gear Solid 3: Snake Eater e para Jordan Mechner fazer Prince of Persia: Sands of Time. Até o diretor de cinema Guillermo Del Toro cita Ico e Shadow of the Colossus como obras primas que o influenciam em seu trabalho. O jogo recebeu inúmeros prêmios, incluindo o de Game of the Year 2002 pela Eurogamer UK. Obteve um sucesso tão grande que recebeu uma novel, chamada Ico: Kiri no Shiro(Ico: Castelo de Nevoas).

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Porém, não recomendo Ico pra todos. Não procure por aqui uma história grandiosa envolvendo escalas épicas e globais; um jogo cheio de ação e sangue ou uma experiência Michael Bay.  Ico é intimista e minimalista, um jogo pessoal.  Se salvar a princesa ainda é o bastante ou então você esta a procura de uma tocante historia sobre amizade, Ico é um jogo que você precisa jogar.

E aqui fica minha recomendação para quem pegar o HD Collection, para jogar Ico pela primeira vez: Não veja a lista de trophys, não veja nenhum Trophy Guide, jogue a primeira vez pela experiência. Digo porque eu fiquei fissurado em pegar um monte de troféu numa atirada só e isso me fez sair da experiência em vários momentos. Volto para falar sobre Shadow of the Colossus quando eu terminar, se eu terminar.

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